segunda-feira, 20 de abril de 2009

Arrojamentos

Nos últimos dias esta notícia tem tido algum destaque na imprensa nacional. Outras fontes, como o Jornal de Notícias referem que o animal deu à costa ainda com vida, mas que acabou por morrer. Mas o que me chamou a atenção não foi a notícia (na verdade dificilmente chamaria a isto notícia), mas sim um comentário precisamente no JN. Um senhor de Braga afirma:

"Infelizmente, para azar deste pobre animal, foi ter dado à costa portuguesa, porque se fosse em outro país, seguramente que seriam feitos todos os esforços para poder ser salva e colocada em alto mar. Para piorar esta situação ainda, foi ela ter encalhado ao fim-de-semana... o país que somos, o país que temos... é de lamentar!!"

Este comentário é interessante à luz de um relatório apresentado há umas semanas pela Zoological Society of London que afirma que a melhor conduta a ter perante um cetáceo arrojado vivo é a eutanásia. A conclusão deriva de uma análise às condições de saúde de cetáceos arrojados no Reino Unido durante 4 anos, e respectivas taxas de sucesso em devolver os animais ao mar. O resultado foi que as condições de saúde eram sempre bastante más (os animais estavam já bastante desidratados e subnutridos), e que de todos os arrojamentos em que foram tentados salvamentos, nenhum foi bem sucedido. Como tal, concluiu-se que o melhor procedimento seria abater os animais, pois a tentativa de salvamento apenas prolonga o sofrimento do animal. Segundo parece (aqui), esta política já foi aceite por uma série de outras instituições de conservação e protecção de animais britânicas, como RSPCA, IFAW, BDLMR, CRRU e Marine Connection.

Segundo o senhor de Braga, esta baleia teve azar por ter arrojado em Portugal, mas teve sorte por não ter arrojado no Reino Unido, onde seria imediatamente morta.

8 comentários:

  1. Joana Macedo26/05/09, 23:52

    Não percebo como é que alguém pode ter dito que o animal deu vivo e em sofrimento.

    Sou de lá e estive lá e é impossível que aquele animal tivesse dado vivo, a não ser que as baleias vivas tenham um cheiro a podre.

    Já agora porque é não perguntam aos biólogos que lá estiveram a causa de morte deste animal? Eles devem ser da vossa associação?

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  2. Joana,

    Obrigado pelo comentário. É curioso referires que o animal cheirava a podre. Eu já vi algumas balieas-anãs vivas na nossa costa, e pelo que me disseram elas cheiram a peixe (algumas pessoas referiram que o peixe não seria propriamente fresco!). Eu pessoalmente não sei a que cheiram, pois sou anósmico (isto é, não tenho o sentido de olfacto)! De qualquer forma, o jornal foi buscar a informação a algum lado e agora estou curios sobre se realmente o animal estava vivo ou não.

    Quanto á tua pergunta, o biólogo que aparece no vídeo em particular, eu pessoalmente não o conheço (diria que é normal, pois eu trabalho com animais selvagens vivos e não com arrojamentos), mas conheço (não pessoalmente, mas de nome e trabalho) alguns biólogos da Universidade do Minho, e se não estou enganado, alguns forma mesmo convidados a fazer parte da associação, mas nunca se juntaram. Nós gostaríamos imenso que eles se juntassem à Cetus, mas não podemos obrigar as pessoas.

    Quanto à causa da morte, individualmente é um dado que diria ser pouco relevante. Torna-se mais relevante quando em conjunto com dados de outros arrojamentos para ver se, por exemplo, existem mais mortes causadas por actividades humanas, ou se há uma incidência maior de uma doença em particular, etc.. O ICN tem uma rede de arrojamentos, mas pelo que sei a maior parte das vezes é mto difícil determinar a causa exacta de morte, além de que é uma análise bastante cara e demorada.

    Mas já agora, aproveito para te pedir a ti que lá tiveste, uma breve descripção da situação, como o que te chamou mais a atenção, qual a reacção das pessoas locais, etc.. Obrigado!

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  3. Não se pode basear uma taxa de sucesso da reabilitação com base em dados do Reino Unido. Sendo declaradamente contra delfinários, naquele país não é efectuada reabilitação de cetáceos simplesmente porque não existe o know-how ou as infraestruturas. Naturalmente que empurrar para o mar um cetáceo que dá à costa terá sempre uma taxa de sucesso diminuta. Recomendo que procure outras fontes. Existem estudos realizados nos Estados Unidos que, ainda que evidenciem uma muito baixa taxa de sucesso, indicam que tal é possível. Naturalmente que não se tratariam de Misticetes (ainda que já o tenham conseguido com uma baleia-cinzenta). Quanto ao cheiro a podre, ainda que dificilmente pareça o caso, um animal que evidencie sinais de necrose em alguma parte do corpo pode emitir um cheiro bastante desagradável e estar, no entanto, vivo.

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  4. "Existem estudos realizados nos Estados Unidos que, ainda que evidenciem uma muito baixa taxa de sucesso, indicam que tal é possível. "

    Poderia indicar a referência exacta por favor?

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  5. Marine Mammal Science, Volume 23, nº 4; de Outubro 2007 pp 731-750.

    É um prazer ajudar...

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  6. Cáro Águas (é mesmo esse o seu nome?),

    Li o artigo, e pelo que percebi é uma revisão de várias opiniões expressas na literatura sobre custos e benefícios de recuperar cetáceos arrojados, e no fim propõe um esquema para ajudar a tomada de decisão. Nesse esquema, a reçibertação do animal é apenas uma de 4 soluções possíveis. Diz tb que não há estudos de viabilidade a longo-prazo dos animais libertados,e refere que os custos de recuperação destes animais são sempre astronómicos.

    Por isso pergunto, de que forma esse artigo inviabiliza a conclusão de que na maioria dos casos de cetáceos arrojados vivos, a eutanásia é a solução mais razoável?

    Obrigado pela participação!

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  7. Caro André Moura.
    Sim Águas é o meu nome, porquê a dúvida? Eu até acho que é giro. Não encontrou no Google foi? Nunca disse que era um Biólogo activo, nem sequer Biólogo. A minha área é a de sociologia, mas gosto de estudar, como hobby, Biologia de cetáceos e muito do que os rodeia. Está-me a parecer que se sentiu ameaçado apenas pela expressão de uma opinião contrária. Nem sequer foi uma crítica.
    Mantenho que socorrermo-nos de dados unicamente do Reino Unido, dada a sua conhecida política, me parece redutor.
    Não invalida a eutanásia como opção. O artigo que lhe mencionei é bastante rico exactamente por dar a conhecer várias visões e alternativas.
    Votos de maior tolerância.

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  8. Caro Águas,

    Só fiquei com curiosidade em saber se assinava com o seu nome ou com um nick, nada de mais. E não, não encontrei no google porque nem sequer procurei. Preferi confiar em que me respondia se eu perguntasse. :)

    Tal como o senhor, eu não sou biólogo activo. Sou licenciado em biologia, mas não estou inscrito na ordem dos biólogos, nem nunca exerci actividade como biólogo. Sou apenas um aprendiz de investigador, ou seja, um estudante como o senhor. Como tal não tenho que me sentir ameaçado seja de que forma for pelas suas opiniões. Na verdade,a minha pergunta foi sincera. Indicou-me uma referência que fui ler com bastante curiosidade, mas não consegui encontrar lá algo que invalidasse as conclusões tiradas no Reino Unido. Na verdade, muito do que lá está escrito era coincidente com as conclusões do Reino Unido (que pelos vistos a Austrália começou também já a adoptar). E por isso lhe fiz a pergunta, não me estivesse a escapar alguma coisa.

    Cumprimentos, e volte sempre! :)

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