quarta-feira, 1 de julho de 2009

Morreu o Nazaré!



Aconteceu alegadamente a 4 de Junho, e foi anúnciado de forma extremamente discreta na comunicação social. Para quem não se lembra do episódio, o Nazaré era uma cria macho de baleia-piloto que arrojou ainda viva na praia da Nazaré (daí o nome). Rapidamente foram mobilizados vários meios para "salvar" a cria, e acababou transferida para o Centro de Reabilitação de Quiaios, da Sociedade Portuguesa da Vida Selvagem, onde foi estabelecida uma vigilância a 24 horas com a ajuda de muitos voluntários. Previsivelmente, a cria rapidamente cresceu e ficou demasiado grande para as instalações modestas o centro de Quiaios, e teve que ser transferida. Previsivelmente, foi transferida para uma instituição comercial com os meios necessários para manter um animal como o Nazaré, neste caso o Jardim Zoológico de Lisboa (devido ao intenso contacto humano que teve durante a sua estadia em Quiaios, devolver o animal ao mar ficou fora de questão). Passados uns tempos (e novamente, de forma previsível!) O Zoo de Lisboa anuncia o sucesso na recuperação da Nazaré e anuncia que começará a fazer exibições com ele, tudo isto num semanal de informação com ampla distribuição, a revista "Visão". No entanto (e, peço desculpa por me repetir, de forma previsível!) rapidamente o Zoo de Lisboa começou a ficar sem condições para manter a baleia-piloto, que com 3.50 m ainda teria mais outros tantos para crescer (pode-se ver no vídeo em cima como era já visivelmente maior que os companheiros). Como tal, começaram a sair informações de que o Nazaré seria transferido para o SeaWorld em S.Diego. No entanto, não houve informações sobre quem pagaria a transferência, e quanto iria o Zoo de Lisboa ganhar com a mesma. Até que no dia 4 de Junho, de forma misteriosa e sem qualquer aviso, o Nazaré morreu. A necrópsia (e não autópsia) foi inconclusiva.

Este caso faz-me lembrar o caso do Balú uma cria de Grampo que arrojou também vivo. O Balú foi imediatamente transferido para o Zoomarine sob o pretexto de ser "recuperado" (ou salvo, de acordo com as versões), facto que foi anunciado com toda a pompa e circunstância na comunicação social. Filas de pessoas (que pagaram uma entrada no Zoomarine) formaram-se para ver o Balú, anunciou-se um sucesso inédito na recuperação de uma cria desta espécie, até que um dia morreu repentinamente.

Ambos os casos levantam a questão de se estas atitudes aparentemente altruístas (e muitas das pessoas que tomam parte nos esforços de recuperação fazem-no de forma efectivamente altruísta) beneficiam mais o indivíduo e a espécie à qual pertence, ou os interesses comerciais de certas instituições que se esforçam por apresentar novidades que renovem o interesse do público. Além disso, se o destino é normalmente ficar confinado a um tanque minúsculo onde terá que desempenhar truques em troca de comida para o resto da vida, até que ponto o bem estar de um animal essencialmente oceânico fica garantido?


Por baixo da fotografia pode ler-se a palavra "Crueldade".


6 comentários:

  1. Este texto deixa-me triste e revoltado.
    Mas estes sentimentos não surgem pelo que está aqui descrito, mas pela constatação de que as pessoas se reservam o direito de fazer acusações fortíssimas sem saberem do que raio estão a falar.
    Sou Biólogo, trabalho agora num centro de reabilitação de pinípedes e cetáceos nos Estados Unidos (sem animais em cativeiro) onde estou a fazer o meu doutoramento e fiz parte das equipas de voluntários tanto do Nazaré (ainda em Quiaios) como do Balu (no Zoomarine). Meu caro Moura, se tivesse olhado para os profissionais de ambas as equipas, de rastos e à beira de quebrarem, devido a demasiados turnos de seguida e noites sem dormir, numa dedicação extrema aos cetáceo por cuja vida lutavam a cada hora; se tivesse presenciado a tudo isso tinha simplesmente vergonha das insinuações aqui deixadas e pedia publicamente desculpas a ambas as equipas. Já que diz conhecer os elementos da Universidade do Minho, desafio-o a perguntar-lhes se consideram que as equipas que trabalharam na reabilitação do Balu e do Nazaré, ainda que em parques zoológicos, alguma vez seriam capazes de os matar. Escreve num post anterior que convidou os Biólogos da Universidade do Minho a juntarem-se à CETUS mas que eles não aceitaram. Estranho, uma associação que em dois ou três posts já revela tanta seriedade e carácter, deveria por certo atrair profissionais em grande número.
    Quanto às mortes daqueles animais, já que não acredita que quem trabalha com animais jamais seria capaz de proceder à sua eutanásia por razões políticas, desafio-o a pensar um pouco no que é que de facto ganhavam aqueles parques em matar aqueles animais, quando pelo contrário beneficiariam bem mais com o facto de ficarem vivos. Para além disso, como é que pode falar de qualquer mistério no caso do Balu quando cada flatulência que aquele animal tinha era caso de notícia, de manhã à noite? Todo o processo do Balu foi exposto ao máximo. Outro exemplo da sua ignorância, e que saberia se lá tivesse sido voluntário, é que o Balu não estava à vista do público. Estava sempre, sempre escondido da vista do público, algo que foi mencionado vezes sem conta nas notícias e que quem lá fosse podia constatar.
    Você tem potencialidade de contribuir em muito para o conhecimento dos cetáceos em Portugal e esta associação poderia ser uma coisa positiva na dinamização do estudo dos cetáceos em Portugal e numa forma de dinamizar a comunicação entre os profissionais do ramo. Mas digo-lhe desde já que uma abordagem sensacionalista ao estilo TVI e Manuela Moura Guedes não lhe conseguirá a isenção e seriedade que eu acredito que a associação procura. Mais, ainda que não concorde com o cativeiro e parques zoológicos sei pelo menos separar as águas e saber que em todo o mundo (assim como nos parques portugueses) trabalham profissionais que dão um enorme contributo para o conhecimento dos cetáceos e para a sua conservação no selvagem. De certeza que quer começar a sua actividade a alienar esses profissionais dedicados? É que há muitos outros que trabalham em campo e até podem ser contra parques mas que não vão aplaudir essa sua iniciativa.
    Gostaria ainda que tivesse a coragem de não apagar este post e deixá-lo publicado.
    Boa sorte para a CETUS e votos de melhores posts.

    ResponderEliminar
  2. O senhor Moura claramente não fez parte da equipa de voluntários que trabalhou 24 sobre 24h para que o Balu recuperasse. Ou teria estado dentro da piscina às 3h da manhã para contar cada respiração, de hora a hora, ansiado por novidades fora dos seus turnos, chorado a sua morte, em conjunto com todos os outros voluntários e profissionais que o acompanharam no dia em que a triste notícia chegou. Teria estado no lugar em questão e sabido que este estava fechado ao público. Se lá tivesse estado, podia ter trabalhado com todos os outros, ter vivido cada instante, sido uma pessoa mais rica, e comentado de forma inteiramente diferente tudo que ali se viveu.
    Eu fui voluntária, estive lá, e só gostava que tivesse estado também. Verdadeiramente.

    ResponderEliminar
  3. Gonçalo Gomes21/08/09, 01:25

    Escrevo este comentário, não porque acredite que é sua intenção iniciar qualquer tipo de debate de natureza ética ou prática, mas sim porque, enquanto voluntário de um processo tentado de recuperação de um cetáceo, me sinto ofendido pela leviandade das suas palavras.
    Não sei se irá publicitar este post, e também me é um pouco indiferente, porque é a si que ele é destinado, e a si tenho a certeza que chegará.
    Antes de mais fico chocado que, em posse de suspeitas tão tenebrosas, mas disparadas com a firmeza demonstrada, não as tenha encaminhado, como cidadão responsável, para a via própria: a Justiça. Só pode querer dizer uma de duas coisas: ou não passam de atoardas, ou não é menos cobarde e conivente do que aqueles que identifica como autores de tão cruéis crimes.
    Mas, muito concretamente, enquanto voluntário (nem do Nazaré, nem do Balu, mas de uma Stenella coeruleoalba, infelizmente um caso sem sucesso) choca-me que insinue que todo o esforço e dedicação daqueles que se enfiam em tanques de água gelada, madrugada fora, partilhando a angústia de um animal ferido e assustado - voluntários amadores e voluntários profissionais, que excedem em muito aquilo que são as suas obrigações contratuais e, na sua óptica, mercantilistas - , não passa de uma marioneta nas mãos de perversos titereiros sem rosto ou nome. Somos então todos cúmplices? Somos todos assassinos?
    Poderá afirmar que estou emocional e pessoalmente envolvido, e que por isso sou parcial. Correctíssimo. Mas, meu caro, a sua posição, por não ter lá estado, está ferida de desconhecimento e ignorância.
    E, de qualquer maneira, estou como E. Burke: "Ninguém cometeu maior erro do que aquele que não fez nada, apenas porque pensou que poderia fazer muito pouco".
    Sim, porque aquilo que é sugerido, de forma implícita, nas suas palavras, é uma alternativa mais negra. O que sugere? Deixar morrer cetáceos arrojados na sua lenta agonia? Ou meter mãos à obra e acabar com o serviço nós mesmos? É sacrossanto o seu direito a discordar com parques zoológicos, mas tenha a coragem de explicar a alternativa que propõe para estes casos e assumir as implicações.
    De resto, é pena ter esse prurido e visão curta em relação a eventuais mais-valias que estas instituições possam retirar de acções similares. Será que só se pode capitalizar sobre acções incorrectas? Chocará assim tanto que alguém retire valor (o que nestes casos é altamente questionável) de acções "humanitárias"? Por acaso sente um peso na consciência quando desconta os seus cheques, no fundo também pagos à custa destes animais?
    É óbvio que não há soluções perfeitas, mas, mal por mal, parece-me mais coerente uma linha de acção que optimiza a esperança, com objectivos de longo-prazo, e que, no processo, faz vir ao de cima coisas muito boas.
    Por muitos e merecidos graus académicos que meta antes e depois do seu nome, a intransigência e vilania demonstradas fazem temer pela qualidade do biólogo, no sentido do todo, nem sempre apreensível por instrumentos ou teorias, que é a vida.

    ResponderEliminar
  4. É curioso a quantidade de comentários e juízos de valor a opiniões que não foram expressas. Os comentários são todos extremamente extensos (mais do que o post original), mas vou responder alguns pontos que acho importantes:

    1- Nunca disse em lado nenhum, nemseque insinuei, que os animais em causa foram mortos pelas instituições que os acolheram

    2- Eu sei, e digo isso, que as pessoas que se voluntariam para participar nestes esforços o fazem com uma vontade genuína de ajudar e de fazer algo pelo que consideram ser o meio ambiente

    3- Todos os 3 comentadores são muito rápidos a acusarem-me de ignorãncia, mas ignoram eles próprios quais os meus conhecimentos sobre o assunto, tanto em termos de centros de recuperação, como do bem-estar destes animais em cativeiro.

    4- o objectivo deste post era chamar a atenção para o facto de o trabalho de tantos voluntários que deram tanto da sua vida pessoal (já para não falar dos recursos financeiros, assunto do qual duvido que alguns dos comentadores esteja bem consciente) estar a ser gravemente desrespeitado ao não se fazer todos os esforços possíveis para devolver o animal ao mar. A verdade, é que nunca houve qualquer intenção (ou hipótese) de devolver o animal ao mar.

    5- Várias das principais associações internacionais de protecção de cetáceos e de bem estar animal, reconheceram já que a grande maioria das tentativas de recuperação de cetáceos arrojados vivos são infrutíferas, e que só resultam em mais sofrimento e stress para o animal (ver um dos posts anteriores). Recentemente, houve um arrojamento em massa de baleias-piloto na Austrália, em que a política adoptada foi eutanaziar os animais. Já agora, e do alto da minha extrema ignorância, refiro que é política de muitos centros de recuperação de aves é não recuperar aves que tenham caído dos ninhos, pois isso faz parte do seu ciclo natural. Quando um animal destes dá à costa vivo, é porque está já extremamente debilitado por outras causas, muitas vezes naturais.Eu sei que pode parecer estranho, mas estes animais normalmente preferem estar em mar aberto, vá-se lá perceber porquê!

    6- Não conheço pessoalmente os investigadores da universidade do Minho, apenas de nome. Não fui eu que convidei outros investigadores, foram outros membros da Cetus antes de eu me juntar à mesma, e por isso nem sei se esse convite foi feito aos investigadores da universidade do Minho.

    7- Não percebo porque todos achavam que eu ia apagar comentários. Que eu saiba, o 25 de Abril já foi há mais de 30 anos, e eu não trabalho para nenhum governo!

    8- Já que todos demonstraram um enorme entusiasmo por estes animais, e alguns até são profissionais da área, convido-os a fazerem-se sócios da Cetus, juntarem-se a este blog, e darem a vossa opinião e conhecimento (que acredito ser imenso) sobre o assunto em causa, mas por favor sem insultos, preconceitos ou juízos de valor sobre pessoas que não conhecem. Comentaram se eu teria a coragem de manter os vossos comentários. Não preciso de coragem para isso! Mas terão os comentadores coragem de por os seus preconceitos de lado e conhecer mais sobre o trabalho que se faz por estes lado (ou seja, o mar!)? Se não gostarem do que virem podem afastar-se, e depois poderão criticar com conhecimento de causa.

    Cumprimentos a todos, e muito obrigado por terem deixado a vossa opinião!

    ResponderEliminar
  5. Bom dia, sei que esta temática não é recente, mas gostaria de lhe fazer algumas questões para um trabalho de Jornalismo de Investigação. Como poderia contactá-lo? Obrigada

    ResponderEliminar
  6. Houve uns boatos que fizeram testes com sonares e que isso levou ao seu desnorteamento e consequente acidente

    ResponderEliminar